segunda-feira, outubro 16, 2006

Marrocos 2006

Decidi-me em dois dias. Foi o tempo de falar com os meus pais, avisar a Inês, tratar do passaporte e fazer-me à estrada. Porto 23h, mala feita com tudo pronto. Tenho de estar em Lisboa na Embaixada de Marrocos às nove da manhã, para autenticarem uma autorização para o carro. Tinha pensado em sair às sete mas os nervos não me vão deixar descansar. Nem são bem nervos, é ansiedade para começar esta aventura. Decido-me! Vou arrancar agora. Passei no Bom Dia e ainda estive lá um bocado com a malta. À 1.30h da manhã estou a atravessar a ponte do freixo em direcção àquela auto-estrada nova (que não tem portagem) que vai até Estarreja. Ponho a tocar um cd que gravei e lá vou eu, pela noite fora, sozinho, como já é muito meu hábito. Gosto de viajar sozinho e pelas nacionais, não me custa absolutamente nada, vou a pensar na vida. Bem, a uma velocidade média de 90 km/h, são 5.30 da manhã e estou a passar o Estádio de Leiria. Como sono me está a atacar com força, vejo um motel do lado direito e decido parar para dormir algumas horas. Toco à campainha e pouco depois atende-me um senhor que me manda entrar e pergunta muito espantado: "Vem sózinho?" Eu respondo afirmativamente, dizendo que vinha a conduzir há muitas horas e que queria descansar um bocadinho, pois tinha de estar em Lisboa muito cedo. O motel até tinha bom aspecto, mas de repente o senhor vira-se para mim e diz: "Olhe, eu nem devia estar a dizer isto, e peço-lhe que não me leve a mal, mas já que o senhor só quer descansar umas horas, existe já ali à frente outro motel a metade do preço deste. Não espere é encontrar a mesma higiene que aqui, pois aquilo ali é só putaria!" Palavras dele.
Agradeço-lhe, pego no carro e mais à frente descubro o tal motel, com um restaurante no rés-do-chão. "Para quartos toque à campainha." Dizia lá num papel colado no vidro da porta do restaurante. São seis da manhã, estou cheio de sono e estou a tocar à dita campainha. Ouço uma persiana a abrir e vejo um velhote em tronco nu. "Boa noite, precisava dum quarto por favor..." O homem sem hesitar, baixa-se e atira-me com uma chave (quase que me acertava) dizendo: "Essa porta aí à esquerda, segundo andar!" Ok. Lá entro e deparo-me com um corredor escuro mesmo sinistro, cheio de portas de ambos os lados. Lá dou com o meu quarto, entro e nem abro a roupa da cama, nem tiro a minha própria roupa. Aquilo era mesmo uma espelunca. Ligo a televisão e além dos 4 canais nacionais ainda tinha um porno de bónus. Como estava muito cansado adormeci logo e três horas depois acordo com o desertador do telemóvel. Tomo um banho, desço para o restaurante e deparo-me com uma mulher com ar de prostituta atrás do balcão. Tinha pensado em tomar lá o pequeno-almoço mas aquele panorama fez-me logo perder o apetite. "Bom dia queria pagar por favor." Paguei dez euros (em vez dos 35 que ia pagar no outro motel). Arranco em direcção a Lisboa. Nunca pensei que em Agosto houvesse tanto trânsito para entrar em Lisboa de manhã. Que seca. Fui tentar encontrar a embaixada através de uma foto aérea que tinha imprimido do google earth na véspera. Não foi difícil. É uma rua residencial, com várias vivendas, e várias embaixadas. Entro na Embaixada Marroquina, que estava vazia e sou atendido rapidamente.
Pronto! Mais um assunto resolvido. Dirigo-me então para o Algarve para pegar na Inês. Cheguei a Vilamoura por volta da hora do almoço, comemos qualquer coisa e depois assusto-me com a quantidade de malas que ela trás. "Inês nós vamos para Marrocos sem nada marcado, para andar à procura de hotéis, em condições que desconhecemos, e tu trazes estas malas todas?" Enfim. Lá vamos nós por ali fora todos contentes. A Mariana e o Alberto já tinham atravessado o Estreito de Gibraltar. Vila Real de Santo António, Sevilha (onde apanhámos as temperaturas mais altas), Cádiz, Tarifa. Chegamos a Algeciras de noite, jantámos e procurámos um hotel pois tinham-nos recomendado a não fazer a travessia de noite. O hotel até era bastante simpático mas tinha o ar condicionado avariado. Estava um calor enorme. Cerca de 40 graus. Na manhã seguinte acordámos cedinho e fomos logo para o Ferry. Já tínhamos comprados os respectivos bilhetes na noite anterior para não se perder tempo (quase 300 euros para um carro e duas pessoas, ida e volta!).
Ao fim de uma hora lá chegámos a Ceuta. Não gostei nada da cidade, é mesmo feia. Gostei do facto de aquilo ser tipo off-shore, um paraíso fiscal para o volume de Marlboro que comprei (20 euros). No entanto lá apanhámos a estrada pa Marrocos e um pouco mais à frente lá chegámos à fronteira.
Não sei se consigo muito bem descrever aquilo. Uma infinidade de carros, pessoas, marroquinos melgas a pedir dinheiro, toda a gente a tentar vender o seu filme. Uma confusão brutal! Já sabia mais ou menos aquilo que tinha de fazer, e ao fim de três horas e muitos filmes lá consegui carimbar os passaportes e tratar dos documentos do carro. Tínhamos combinado encontrarmo-nos com os nossos amigos em Fez, onde eles já estavam, e onde nos iam arranjar um quarto no mesmo hotel. Na viagem passámos por Tetouan, onde várias motas nos seguiam encostadas às nossas janelas, com marroquinos a melgar: "Haxixe? Hotel? Mercado? Espanhol? Italiano?" São insuportáveis eles. Depois fomos visitar o vale de Chefchouen, uma cidade de grande atracção turística devido "àquilo que faz rir". Em todas as estradas do interior, além de imensos controles policiais, encontram-se muita gente a tentar vender haxixe. Mal vêem o carro passar, levantam-se e começam a gesticular e a chamar por nós.
Chegámos a Fez ao final da tarde, meia hora para encontrar o hotel mas lá conseguimos. Mariana! Alberto!! How are you? It's me! The pussylover!! Depois de alguma conversa fomos pousar as coisas e tomar um banho, e encontrámo-nos com o guia à porta do hotel. Fomos jantar a um restaurante típico no centro da Medina. Fomos de táxi. Meu Deus! O filme em que me meteram! O trânsito neste país é de loucos, é o salve-se quem puder! Nunca tinha visto nada igual. E o taxista parava junto a toda a gente que encontrava na rua, para oferecer boleia à nossa pala. Foi a risota! O restaurante era muito giro, e o primeiro contacto com a comida marroquina foi muito bom, pois tinham-me dito que a comida era horrível. Mentira! É tudo óptimo. No fim do jantar estivemos a passear pela Medina e a visitar algumas lojas. A Medina é nada mais nada menos do que o centro histórico das cidades, e é sempre cercada por muralhas. As ruas são estreitas, escuras e cheiram mal. As pessoas são sinistras. É um ambiente surreal. Mas o guia controlava aquilo tudo. Adorámos Fez.
A nossa próxima viagem foi um grande "esticão". Fez-Marrakech pelo quente interior marroquino, sempre em estradas nacionais claro. Demorámos cerca de 9 horas e chegámos a Marrakech ao fim da tarde, a pior hora para se andar de carro em Marrakech. Se já tinha achado o trânsito em Fez caótico, aqui então é inacreditável. Parece que tem cola nas buzinas! Sempre a buzinar. Prioridades não existem, a circulação nas rotundas é feita pelo sentido que der mais jeito, burros no meio da estrada. Enfim! Um autêntico terceiro mundo!
Conseguimos arranjar um hotel rapidamente graças à preciosa ajuda do guia da lonely planet. Era um riad giríssimo e bastante acessível. Pousamos as coisas e fomos logo para a praça central de Marrakech. Os finais de tarde ali são fora de série! As miúdas aproveitaram para fazer umas tatuagens de tinta, como vão poder ver no filme. E nós divertíamo-nos com os macacos e as sepentes.
Depois de Marrakech resolvemos guiar em direcção ao litoral. O clima aí é muito parecido com o nosso. Já não é aquele calor imenso e abafado do interior. Chegados ao litoral rumámos em direcção a Sidi Kauki, uma vila sossegada, com uma praia linda e indicada para a prática de wind e kite. É a Tarifa marroquina. Com alguns hóteis pequeninos mas super charmosos, é como que um pequeno paraíso. Ficámos num hotel giríssimo de umas irmãs belgas, super simpáticas. Nota-se uma diferença enorme dos hóteis de gestão europeia! A praia é brutal, mesmo sossegada, o areal é enorme, não tem guarda-sóis mas os camelos que passeiam na praia tratam de nos proteger. Quem quiser pode optar por passear a cavalo junto à água. Os hamburgers do bar da praia são também deliciosos. Não me importava de passar aqui duas semanas só a fazer praia.
Próxima paragem Essaouira. O contraste: praia horrível, cheia de gente (mas cheia mesmo, impressionante), carros, trânsito, pior que Albufeira em Agosto. Ficámos a dormir os 4 numa suite giríssima que até piano tinha.

Neste hotel havia cerveja, que maravilha pois para arranjar álcool neste país é um verdadeiro filme! A Mariana fazia anos e jantámos num restaurante lindo. Foi muito divertido.
Fomos ainda a Casablanca e a Rabat (a capital), mas não gostei. São cidades gigantes (Casablanca tem 5 milhões de habitantes) e muito ocidentalizadas. Arranha-céus, MacDonalds e todas essas tangas. Fui multado na viagem pois fui apanhado por um radar em excesso de velocidade. Paguei dez euros de multa. Das 3 vezes que me mandaram parar em transgressão, foi a única vez que me multaram, pois sempre que viam que eramos estrangeiros, eramos tratados com palmadinhas atrás das costas.
À vinda embora levámos com uma pesada revista na fronteira. Mandaram-nos sair dos carros, cães lá para dentro, queriam desfardar-me as portas, meteram-se debaixo do carro. Malas todas para fora. Impressionante.
Depois em Espanha ainda ficámos uma noite a dormir em Tarifa, que é simplesmente fantástico. Mais animação não há. Para o ano vou lá passar uma semaninha.
Conclusão: todos adorámos e divertimo-nos imenso. Beijos e abraços à gang, com a esperança de um reencontro próximo. Fica a saudade... e o filme...

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