sábado, fevereiro 03, 2007

IMAGENS DA SALA DE ESPERA

Para quem ainda não sabe, fui atacado por uma repentina e forte gripe na quarta-feira à noite, com um exame na quinta e outro na sexta de manhã. Para evitar problemas auto mediquei-me com benurons e cê-gripes aos pares, para me manter sem febre nem dores até fazer esses dois exames. A minha garganta parecia Beirute, completamente destruída, e as dores eram horríveis, mas lá consegui ir fazer o exame de quinta-feira nas minhas melhores condições. O mesmo não posso dizer do de sexta, pois não consegui meter nada na cabeça e não o fui fazer. Tive então de marcar uma consulta no médico para ele me receitar um antibiótico. E é aqui que começo o meu relato...
Telefono para a Clínica Central do Bonfim, marco uma consulta com o médico de serviço, e lá vou eu. Entro, digo o meu nome (sem antes um casal de idosos me tentar passar à frente descaradamente) e vou para a sala de espera aguardar a minha vez. A sala estava quase vazia, além de mim estava apenas um pai com as suas duas filhas, ele com aproximadamente 40 anos, e as miúdas aí pela zona dos 10... Elas estavam sentadas muito atentas, a ouvir a explicação do pai que, muito calmamente, lhes ensinava a numeração romana: "...um I à esquerda do X é um nove, um I à direita do X é um onze..."; e elas com uma postura super educada lá iam assimilando aquilo que o pai lhes transmitia.
No entanto vem uma enfermeira e manda-os entrar para o consultório. Fico sozinho e ponho-me a ler um artigo sobre a criminalidade no estado de Washington que tinha lá numa revista. No decorrer do artigo entram dois jovens da minha idade, um rapaz mais novo sozinho e o casal de idosos matreiro de que falei à pouco. Estava tudo com a típica cara de sala de espera de médico, cinzenta e sisuda, que enjoa a alma mais bem-disposta. Continuo a ler o meu artigo sobre violadores, assassinos, amigos do alheio e afins, quando entra na sala uma senhora forte, de aproximadamente 40 anos, com uma mochilinha de criança debaixo do braço, senta-se, e diz de forma meiga "Carla. Carlinha. Onde estás? Anda para aqui pequenina!" Nisto tive uma visão! Nunca tinha visto criança mais linda! À porta da sala aparece uma menina pretinha, com os seus 6 aninhos, um ar assustado, uns olhos enormes e lindos, umas trancinhas giríssimas no cabelo, e um Noddy de pano debaixo do braço! E fica ali pasmada, com aquele ar angelical, e aquela dúvida "...entro? não entro? quem são estes?" A senhora torna a repetir: "Carlinha. Anda para aqui. Senta-te aqui à minha beira". E lá vai ela, com os olhos muito arregalados, agarrada ao seu Noddy cheira de força, com medo que alguém lho fosse tirar. Claro que olhei logo para ela e esbocei um daqueles meus sorrisos parvos de orelha a orelha, o que fez logo com que ela mudasse a sua expressão assustada, para uma expressão de espanto de como quem diz: "..ora quem é este anormalzinho?". Mas acho que o meu sorriso serviu para a por mais à vontade, pois ela já estava ali sentadinha mais relaxada e até me provocava. Olhava para mim, apertava o seu Noddy, e este começava a cantar a sua canção. Eu levantava os olhos da revista, olhava para ela assim por cima dos óculos, e começava a abanar a cabeça ao ritmo da música. Ela queria-se rir mas estava envergonhada. 10 segundos depois, olhava para mim outra vez, apertava o Noddy, este recomeçava a cantar, e eu novamente levantava a cabeça da revista, olhava para ela, punha a minha cara de parvo e começava a abanar a cabeça ao ritmo da música outra vez. Mas o que interessa era que ela estava a gostar, e eu também! Isto repetiu-se umas cinco vezes (já quase sabia a música do Noddy de cor), até que a enfermeira me vem chamar. Lá fui eu para a minha consulta, levar com o médico a dizer-me para deixar de fumar, e a miúda lá ficou, sozinha com o seu Noddy, naquela sala cinzenta e triste, sem ninguém para interagir. Se vocês vissem com ela era linda... Há imagens que valem mais que mil palavras...

1 comentário:

Anónimo disse...

Que mau pedofilia à descarada....
Denota-se também uma certa obsessão pela probocação, ou seja... esta sempre alguém a probocá-lo!!!!
Procure o seu Pisicólogo, com alguma urgência!!!